segunda-feira, 30 de abril de 2012

Filosofia da Educação - ED05



Segundo Luckesi (1991) a educação dentro de uma sociedade não se manifesta como um fim em si mesma, mas sim como um instrumento de manutenção ou transformação social. Assim sendo, ela necessita de pressupostos, de conceitos que fundamentem e orientem os seus caminhos.  Deste modo, a Filosofia fornece à educação uma reflexão sobre a sociedade na qual está situada, sobre o educando, o educador e para onde esses elementos podem caminhar.
  A Filosofia da Educação cumpre um papel fundamental dentro da escola, enquanto detentora do processo educativo. Propõe um movimento de auto-reflexão, isto é, uma postura refletida da educação, onde a educação não se desvincula da realidade, mas se propõe a buscar seus fundamentos na práxis. Assim, a educação se auto-avalia e é avaliada a partir da filosofia da educação.
Esta auto-avaliação perpassa todos os espaços próprios do mundo educacional e apresenta sugestões para a otimização da educação enquanto processo de tomada de consciência e transformador do mundo. A filosofia instiga um olhar crítico, nesse caso o foco deste olhar é a educação. Quando a crítica da filosofia é avaliada pela educação, surge a possibilidade de construção de um projeto educativo com bases mais sólidas. Estas bases são dadas pelo confronto que filosofia propõe, atraindo a vida ordinária para a escola. Quando são estreitados os laços entre a vida ordinária e a escola, irrompe a possibilidade da produção de um conhecimento válido e útil.
Uma escola sem crítica e sem auto-avaliação tende a afastar-se da vida, com isso aparece a produção de um conhecimento obsoleto e sem sentido prático, ou seja, surge um conhecimento para ninguém, conhecimento que enche livros, mas que não transforma o mundo nem se abre para a conscientização. O intuito não é criticar o conhecimento produzido durante a história da educação, mas chamar a atenção para a preocupação conteudista da educação brasileira, onde não há o fortalecimento da conscientização, mas a reprodução de uma estrutura mercadológica e opressora.
A filosofia da educação, além de conduzir a educação para uma auto-reflexão, tem a função libertadora e dá à educação os meios necessários para seu fortalecimento e crescimento concreto, levando os educandos à autonomia, função evidente da educação.


Referências:
LUCKESI, Cipriano Carlos. Filosofia da educação. São Paulo: Cortez, 1991.

Mito da Caverna e a Teoria dos dois mundos - AVA05

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Teoria dos dois mundos ou Mundo das ideias - AVA05


       Um dos aspectos mais importantes da filosofia de Platão é sua teoria dos dois mundos (mundo sensível e mundo inteligível ou mundo das idéias), com a qual procura explicar como se desenvolve o conhecimento humano. Segundo ele, o processo de conhecimento se desenvolve por meio da passagem progressiva do mundo das sombras e aparências para o mundo das ideias e essências.
       Para Platão, no mundo das ideias é que moram os seres totais e perfeitos: a justiça, a bondade, a coragem, a sabedoria, etc.
     Fora do mundo das ideias, tudo o que captamos através dos nossos sentidos possui apenas uma parte do ser ideal. O mundo sensível, portanto, é um mundo de seres incompletos e imperfeitos.
           A teoria das ideias representa a tentativa de conciliar duas grandes tendências anteriores da filosofia grega: a concepção do ser eterno e imutável de Parmênides e a concepção do ser plural e móvel de Heráclito. Para Platão, o ser eterno e universal habita o mundo da luz racional, da essência e da realidade pura. E os seres individuais e mutáveis moram no mundo das sombras e sensações, das aparências e ilusões. 

Teoria da Maiêutica - AVA04



Maiêutica (em grego “parto das ideias”) é um método socrático, cujo objetivo é possibilitar ao homem o conhecimento de si mesmo. Como método de ensino, o professor se utiliza de perguntas que se multiplicam para levar o aluno a responder às próprias questões. É uma técnica de ensino fantástica, que atinge resultados excelentes. Tem a vantagem de funcionar como verdadeiro exercício mental para o aluno, que, utilizando seus próprios conhecimentos, desenvolve a capacidade associativa, otimizando recursos na estruturação de mecanismos de raciocínio lógico.

Também funciona muito bem para bebês. O processo da maiêutica pode começar, por exemplo, quando a criança de dois anos pergunta aos pais alguma coisa que já sabe: “O que é isso? – apontando para uma bola, por exemplo”. Frequentemente, crianças pequenas fazem esse tipo de questão. Basta aos pais devolver a pergunta e a criança responderá involuntariamente, constatando que sabe a resposta. Quando faz isto, não está testando os pais ou divertindo-se. Está simplesmente abordando um objeto com uma região do cérebro no qual ele não está registrado. Digamos que está encarando o objeto sob outro ponto de vista.

Teles (1995) apud Jardim, Borges e Freitas et al (2011) afirma que o método consiste em “fazer perguntas e analisar as respostas de maneira sucessiva até chegar à verdade ou contradição do enunciado”. Assim, o método faz com que as pessoas comecem a pensar a partir daquilo que não conhecem, ou seja, pela ignorância.

Acesse o link: http://www.youtube.com/v/0asPyPWD7DU&fs=1&source=uds&autoplay=1

Método Pedagogizador e a Prática voltada para a Intersubjetividade - AVA03


 O método de ensino “pedagogizador” resume-se a instruir, reproduzir um tipo de conhecimento que não é relevante para as reais necessidades do aluno.  Assim, a educação está a serviço de uma sociedade mercadológica e tecnocrática. O aluno é tratado meramente como um objeto a ser conhecido e treinado para atender as exigências do mercado, suas experiências de vida e situações práticas não são consideradas.
O método “pedagogizador” tornou-se um dos grandes desafios da contemporaneidade. É preciso superá-lo, impondo uma pedagogia voltada para atender as reais necessidades do aluno, calcada, sobretudo, por uma política educacional adequada.
O Pacto pela Educação do governo do estado de Goiás, por exemplo, é uma farsa.  Propõe melhoria na qualidade do ensino, porém, impõe conteúdos e avaliações diagnósticas que não consideram a realidade do aluno, visam apenas medir o nível de conhecimento. Assim, o professor passa a treinar o aluno para provas do governo (ENEM, SAEB, SAEGO, etc.), para o Vestibular e para Concursos Públicos. Não basta mudar o discurso “verbalmente”, é preciso efetivar os discursos mediante ações adequadas – educação mais consistente, comprometida com uma efetiva emancipação do sujeito.
Habermas propôs a Teoria da Ação Comunicativa, que abre novas perspectivas para a educação em termos de uma filosofia da educação que possa suscitar nos sujeitos, dotados de competência interativa, a capacidade de questionar o sistema de normas que vigora na sociedade. Habermas contribui para um pensar crítico em prol de uma educação voltada para a formação do sujeito emancipado, sensível e ético.
A Teoria da Ação Comunicativa concebe o espaço da escola como o lugar de exercitar a intersubjetividade entre aluno/professor/escola/família e comunidade, com o intuito de discutir os rumos da sociedade – indivíduo como sujeito e ator social, que reflete sobre os problemas da sociedade, interpreta, participa, dialoga, enfim, luta por interesses comuns.
O modelo de educação calcado na intersubjetividade (conciliação de dois mundos – o do sistema e o da vida) é o mais apto para a construção de pessoas realmente esclarecidas, criativas e autônomas.  
Uma educação guiada pela intersubjetividade tem em vista a valorização social, política, econômica e ética.  Assim, a prática da intersubjetividade no campo da educação supera o modelo “pedagogizador” ao tornar indivíduos mais livres, autônomos, capazes de avaliar seus atos à luz dos conhecimentos, à luz das normas sociais legítimas, tendo propósitos lúcidos e sinceros, abertos à crítica. 

A Filosofia Moderna e suas Características - ED04


Filosofia moderna é aquela que se desenvolveu durante os séculos XV, XVI, XVII e XVIII, tendo seu início no Renascimento e se estendendo até Kant.
Temos primeiramente a Filosofia do Renascimento, que está entre a Idade Média e o Iluminismo, nesse período temos uma retomada dos princípios clássicos da Filosofia Grega, de Platão e Aristóteles. Esse período vai, aproximadamente, do século XV ao XVI, tendo marcado por essa retomada do pensamento clássico, fundamental para a compreensão da filosofia.
Até então, a Filosofia estava bem ligada à questão da Igreja, podendo ser caracterizada muitas vezes como Filosofia Escolástica; já no século XVII, conhecido como a Idade da Razão, houve uma ruptura com esse pensamento mais ligado à Igreja e retoma todo o pensamento do homem em relação ao seu entorno e em relação a si mesmo.
A Filosofia do Século XVIII foi marcada pelo que conhecemos como Iluminismo, um movimento filosófico que dominou a Europa e alguns países americanos, que tinha a razão como base do conhecimento. Desenvolvida principalmente na Alemanha, França e Grã-Bretanha, essa filosofia foi sendo disseminada pelos continentes e teve uma grande influência na Filosofia que temos hoje em dia, pois foi ali que os estudiosos se debruçaram sobre questões muito importantes.
A Filosofia do século XIX foi marcada pela retomada dos pensadores Iluministas, como Immanuel Kant e Jean-Jacques Rousseau, que influenciaram e muito a produção da Filosofia Moderna. Podemos destacar figuras como Goethe, Adam Smith e outros pensadores, que tinham como base as ideias do Iluminismo e a partir delas, conseguiram construir uma nova filosofia. Podemos destacar entre eles: O idealismo alemão; a ciência filosófica de Nietzsche; o Positivismo Lógico, que marcou e muito a Filosofia e outras ciências; o Pragmatismo, característico da necessidade de sistematização da Ciência; e muitas outras escolas que vieram para somar à Filosofia Moderna.

Eis algumas características marcantes da filosofia moderna:


A) Racionalismo: Descartes foi um racionalista convicto. Recomendava que desconfiássemos das percepções sensoriais, responsabilizando-as pelos freqüentes erros do conhecimento humano. Dizia que o verdadeiro conhecimento das coisas externas devia ser conseguido através do trabalho lógico da mente (RAZÃO). Nesse sentido, considerava que, no passado, dentre todos os homens que buscaram a verdade nas ciências, “só os matemáticos puderam encontrar algumas demonstrações, isto é, algumas razões certas e evidentes”.  Aplicando a dúvida metódica, chegou à celebre conclusão: “Penso, logo existo”. Considerou essa conclusão uma verdade absolutamente firme e princípio fundamental de toda a sua filosofia.

B) Empirismo: Francis Bacon, John Locke, David Hume e outros pensadores, contrários ao racionalismo, desenvolveram e propagavam o raciocínio experimental, ou seja, a teoria de que o único caminho pelo qual o homem pode chegar ao conhecimento é através da experiência sensível (empírica). Para os empiristas o contato com o mundo externo através de um conjunto de sensações (através dos quatro sentidos) leva a um processo de dedução, que possibilita o conhecimento.



Racionalismo, Empirismo e Criticismo Kantiano - ED03



Racionalismo: A palavra racionalismo deriva do latim ratio, que significa razão. O termo designa a doutrina que deposita total e exclusiva confiança na razão humana como instrumento capaz de conhecer a verdade. Para Descartes “nunca nos devemos deixar persuadir senão pela evidência de nossa razão”. Os racionalistas afirmam que a experiência sensorial é uma fonte permanente de erros e confusões sobre a complexa realidade do mundo. Somente a razão humana, trabalhando com os princípios lógicos, pode atingir o conhecimento verdadeiro, capaz de ser universalmente aceito. Para o racionalismo, os princípios lógicos fundamentais seriam inatos na mente do homem. Daí por que a razão deve ser considerada como a fonte básica do conhecimento.

Empirismo: A palavra empirismo tem sua origem no grego empeiria, que significa experiência sensorial. Defende que todas as nossas ideias são provenientes de nossas percepções sensoriais (visão, audição, tato, paladar, olfato). Locke ressalta que “nada vem à mente sem ter passado pelos sentidos”. A experiência, assim, seria uma apreensão da realidade externa através dos sentidos que forma a base necessária de todo conhecimento.

Criticismo Kantiano: O termo criticismo é empregado para denominar a filosofia kantiana. Esta se propõe investigar as categorias ou formas a priori (anterior à experiência) do entendimento. Sua meta consiste em chegar a determinar o que o entendimento e a razão podem conhecer, encontrando-se livres de toda experiência, bem como os limites impostos a este conhecimento. O criticismo kantiano se instaura como a única possibilidade de repensar as questões próprias à metafísica. O criticismo pode ser encarado como uma atitude que nega a verdade de todo conhecimento que não tenha sido, previamente, submetido a uma crítica de seus fundamentos. Neste sentido, ele se aproxima do ceticismo, por pretender averiguar o substrato racional de todos os pressupostos da ação e do pensamento humanos. O criticismo kantiano renasce em meados do século XIX, como reação ao predomínio do movimento idealista, por um lado, e, por outro, como contraposição ao positivismo nascente. Este movimento recebe a denominação de neocriticismo ou neokantismo, espalhando-se por toda a Europa, de modo predominante na França e Alemanha. 

Pensamento Educacional de Platão e Aristóteles - ED02


Os males não cessarão para os homens antes que a raça dos puros e autênticos filósofos chegue ao poder. PLATÃO

O ser se exprime de muitos modos, mas nenhum modo exprime o ser. O ser se diz em vários sentidos. ARISTÓTELES


Platão elaborou a teoria das ideias, pela qual procura explicar o processo do conhecimento como a passagem do mundo das sombras e aparências ao mundo das ideias e essências. Os objetos sensíveis geram as opiniões. O conhecimento é formado no mundo racional das ideias, onde o ser é absoluto, eterno e imutável. O mito da caverna ilustra a teoria platônica do processo desenvolvido pelo conhecimento humano. Na política, Platão imaginou uma sociedade ideal governada por reis-filósofos: pessoas libertas da caverna das ilusões e com o mais alto conhecimento do mundo das ideias.

Aristóteles: a) desenvolveu a lógica, ferramenta básica do raciocínio; b) concepção da realidade: os dados captados pelos sentidos constituem a existência do ser. A partir desses dados, a ciência deve buscar as estruturas essenciais. O conhecimento tem de evoluir do individual para o universal. Só existe ciência do universal. A indução é o processo básico do conhecimento científico; c) concepção do ser: o ato é a manifestação atual do ser. A potência representa as possibilidades do ser, sua capacidade de vir a ser; d) teoria da causalidade: distingue quatro tipos de causas: material, formal, eficiente e final. A causa final comanda o movimento da realidade – passagem da potência para o ato; e) definição de homem: ser racional, cuja essência é pensar. Virtude – é o meio-termo entre o excesso e a falta de um atributo qualquer.

Concernente à educação, pode-se inferir que a proposta educacional e política de Platão não é absurda. Para ele, há uma estreita relação entre política, conhecimento e educação. Sugere Educação como Paidéia (Educação integral – corpo e alma), como um meio de construção de uma república ideal, sedimentada no Bem, no Justo e no Belo, ele dá um caráter muito parecido com o que entendemos por educação hoje. Para Aristóteles, cada ser humano assume a sua autoconstrução como se fosse uma obra de arte.  Com isso, a educação vai perdendo herança divina para assumir um caráter de finalidade humana.

Resumindo, a Educação atual adota preceitos das filosofias de Platão e Aristóteles. O ensino não é meramente uma transmissão de conceitos ou conteúdos, mas um treinamento ontológico, uma forma de lapidar os seres para que possam conviver de forma mais harmônica na sociedade – educar para a vida, para o exercício da cidadania (LDB 9.394/96 – “o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico”).

Conceito de Ontologia - AVA02


Ontologia (ontos e logoi) é um termo de origem grega que significa conhecimento do ser. Reproduz a natureza do ser, a existência dos entes, a realidade e as questões metafísicas em geral. É uma parte da filosofia que trata do ser concebido, ou seja, do “ser enquanto ser”, que tem uma natureza comum, que é inerente a todos e a cada um dos seres. A ontologia refere-se diretamente ao ser em sua essência e não segundo sua aparência.
A ontologia costuma ser confundida com metafísica. Conquanto tenham certa comunhão ou interseção em objeto de estudo, nenhuma das duas áreas é subconjunto lógico da outra, ainda que na identidade.
Para a ontologia, qualquer coisa que existe é vista apenas como algo que é, nada mais do que isso. Mas precisamente, ontologia diz respeito a determinar quais as categorias do ser são fundamentais, e perguntar, e em que sentido, os itens para essas categorias serem ditas que "são".


domingo, 22 de abril de 2012

O poder do MITO


MITO
O termo mito tem diversos significados. Pode significar ideia falsa: “o mito da superioridade da raça germânica”. Pode significar também uma crença exagerada no talento de uma pessoa: “Elvis Presley foi o maior mito do rock mundial”; “Ayrton Senna tornou-se mito na Fórmula I”; “Pelé é um mito do futebol”, etc. Pode significar, ainda, algo irreal ou fantasioso: “durante muito tempo acreditou-se no mito da existência de marcianos, de que o mundo acabaria no ano 2000”.
Mito, na sua acepção original, é a narrativa tradicional, integrante da cultura de um povo, que utiliza elementos simbólicos e sobrenaturais (personagens, deuses e heróis) para explicar o mundo e dar sentido à vida humana.
O mito tem por finalidade apenas a si mesmo. Acredita-se ou não nele, conforme a própria vontade, mediante um ato de fé, caso pareça “belo” ou verossímil, ou simplesmente porque se quer acreditar. O mito, assim, atrai em torno de si toda a parcela do irracional existente no pensamento humano; por sua própria natureza, é similar à arte, em todas as suas criações.
A força da mensagem dos mitos reside, portanto, na capacidade que eles têm de sensibilizar as estruturas profundas, inconscientes, do psiquismo humano.
A seguir relacionamos um mito grego:


Narciso – A fonte da vaidade

Narciso era filho do deus-rio Cephisus e da ninfa Liriope, e era um jovem de extrema beleza. Porém, a despeito da cobiça que despertava nas ninfas e donzelas, Narciso preferia viver só, pois não havia encontrado ninguém que julgasse merecedora do seu amor. E foi justamente este desprezo que devotava às jovens a sua perdição.
Pois havia uma bela ninfa, Eco, amante dos bosques e dos montes, companheira favorita de Diana em suas caçadas. Mas Eco tinha um grande defeito: falava demais, e tinha o costume de dar sempre a última palavra em qualquer conversa da qual participava.
Um dia Hera, desconfiada - com razão - que seu marido estava divertindo-se com as ninfas, saiu em sua procura. Eco usou sua conversa para entreter a deusa enquanto suas amigas ninfas se escondiam. Hera, percebendo a artimanha da ninfa, condenou-a a não mais poder falar uma só palavra por sua iniciativa, a não ser responder quando interpelada.
Assim a ninfa passeava por um bosque quando viu Narciso que perseguia a caça pela montanha. Como era belo o jovem, e como era forte a paixão que a assaltou! Seguiu-lhe os passos e quis dirigir-lhe a palavra, falar o quanto ela o queria... Mas não era possível - era preciso esperar que ele falasse primeiro para então responder-lhe. Distraída pelos seus pensamentos, não percebeu que o jovem dela se aproximara. Tentou se esconder rapidamente, mas Narciso ouviu o barulho e caminhou em sua direção:
- Há alguém aqui?
- Aqui! - respondeu Eco.
Narciso olhou em volta e não viu ninguém. Queria saber quem estava se escondendo dele, e quem era a dona daquela voz tão bonita.
- Vem - gritou.
- Vem! - respondeu Eco.
- Por que foges de mim?
- Por que foges de mim?
- Eu não fujo! Vem, vamos nos juntar!
- Juntar! - a donzela não podia conter sua felicidade ao correr em direção do amado que fizera tal convite.
Narciso, vendo a ninfa que corria em sua direção, gritou:
- Afasta-te! Prefiro morrer do que te deixar me possuir!
- Me possuir... - disse Eco.
Foi terrível o que se passou. Narciso fugiu, e a ninfa, envergonhada, correu para se esconder no recesso dos bosques. Daquele dia em diante, passou a viver nas cavernas e entre os rochedos das montanhas. Evitava o contato com os outros seres, e não se alimentava mais. Com o pesar, seu corpo foi definhando, até que suas carnes desapareceram completamente. Seus ossos se transformaram em rocha. Nada restou além da sua voz. Eco, porém, continua a responder a todos que a chamem, e conserva seu costume de dizer sempre a última palavra.
Não foi em vão o sofrimento da ninfa, pois do alto, do Olimpo, Nêmesis vira tudo o que se passou. Como punição, condenou Narciso a um triste fim, que não demorou muito a ocorrer.
Havia, não muito longe dali, uma fonte clara, de águas como prata. Os pastores não levavam para lá seu rebanho, nem cabras ou qualquer outro animal a freqüentava. Não era tampouco enfeada por folhas ou por galhos caídos de árvores. Era linda, cercada de uma relva viçosa, e abrigada do sol por rochedos que a cercavam. Ali chegou um dia Narciso, fatigado da caça, e sentindo muito calor e muita sede.
Narciso debruçou sobre a fonte para banhar-se e viu, surpreso, uma bela figura que o olhava de dentro da fonte. "Com certeza é algum espírito das águas que habita esta fonte. E como é belo!", disse, admirando os olhos brilhantes, os cabelos anelados como os de Apolo, o rosto oval e o pescoço de marfim do ser. Apaixonou-se pelo aspecto saudável e pela beleza daquele ser que, de dentro da fonte, retribuía o seu olhar.
Não podia mais se conter. Baixou o rosto para beijar o ser, e enfiou os braços na fonte para abraçá-lo. Porém, ao contato de seus braços com a água da fonte, o ser sumiu para voltar depois de alguns instantes, tão belo quanto antes.
- Porque me desprezas, bela criatura? E por que foges ao meu contato? Meu rosto não deve causar-te repulsa, pois as ninfas me amam, e tu mesmo não me olhas com indiferença. Quando sorrio, também tu sorris, e responde com acenos aos meus acenos. Mas quando estendo os braços, fazes o mesmo para então sumires ao meu contato.
Suas lágrimas caíram na água, turvando a imagem. E, ao vê-la partir, Narciso exclamou:
- Fica, peço-te, fica! Se não posso tocar-te, deixe-me pelo menos admirar-te.
Assim Narciso ficou por dias a admirar sua própria imagem na fonte, esquecido de alimento e de água, seu corpo definhando. As cores e o vigor deixaram seu corpo, e quando ele gritava "Ai, ai", Eco respondia com as mesmas palavras. Assim o jovem morreu.
As ninfas choraram seu triste destino. Prepararam uma pira funerária e teriam cremado seu corpo se o tivessem encontrado. No lugar onde faleceu, entretanto, as ninfas encontraram apenas uma flor roxa, rodeada de folhas brancas. E, em memória do jovem Narciso, aquela flor passou a ser conhecida pelo seu nome.
Dizem ainda, que quando a sombra de Narciso atravessou o rio Estige, em direção ao Hades, ela debruçou-se sobre suas águas para contemplar sua figura.
Disponível em: <http://hall_of_secrets.tripod.com/greciavaidade.htm> Acesso: 22 abr. 2012.


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Mitos Modernos

O mito recuperado do cotidiano do homem contemporâneo, não se apresenta com a abrangência que se fazia sentir no homem primitivo. Os mitos modernos não abrangem mais a totalidade do real como ocorria nos mitos gregos, romanos ou indígenas. Podemos escolher um mito da beleza, da música, da política, sem que tenham de ser coerentes entre si. Como mito e razão habitam o mesmo mundo, o pensamento reflexivo pode rejeitar alguns mitos, principalmente os que vinculam valores destrutivos ou que levam à desumanização da sociedade. Cabe a cada um de nós escolhermos quais serão nossos modelos de vida. Exemplos de mitos modernos:


SUPERMAN

O Superman é o mito típico de tal gênero de leitores: o Superman não é um terráqueo, mas chegou à Terra, ainda menino, vindo do planeta Crípton. Crípton estava para ser destruído por uma catástrofe cósmica e o pai do Superman, hábil cientista, conseguira pôr o filho a salvo, confiando-o a um veículo espacial. Crescido na Terra, o Superman vê-se dotado de poderes sobrehumanos. Sua força é praticamente ilimitada, ele pode voar no espaço a uma velocidade igual à da luz, e quando ultrapassa essa velocidade atravessa a barreira do tempo, e pode transferir-se para outras épocas. Com a simples pressão das mãos, pode submeter o carbono a tal temperatura que o transforma em diamante; em poucos segundos, a uma velocidade supersônica, pode derrubar uma floresta inteira, transformar árvores em toros e construir com eles uma aldeia ou um navio; pode perfurar montanhas, levantar transatlânticos, abater ou edificar diques; seus olhos de raios X permitem-lhe ver através de qualquer corpo, a distâncias praticamente ilimitadas, fundir com o olhar objetos de metal; seu superouvido coloca-o em condições vantajosíssimas, permitindo-lhe escutar discursos de qualquer ponto que provenham. E belo, humilde, bom e serviçal: sua vida é dedicada à luta contra as forças do mal e a polícia tem nele um colaborador incansável.
Todavia, a imagem do Superman não escapa totalmente às possibilidades de identificação por parte do leitor. De fato, o Superman vive entre os homens sob as falsas vestes do jornalista Clark Kent; e, como tal, é um tipo aparentemente medroso, tímido, de medíocre inteligência, um pouco embaraçado, míope, súcubo da matriarcal e mui solícita colega Míriam Lane, que, no entanto, o despreza, estando loucamente enamorada do Superman. Narrativamente, a dupla identidade do Superman tem uma razão de ser, porque permite articular de modo bastante variado a narração das aventuras do nosso herói, os equívocos, os lances teatrais, um certo suspense próprio de romance policial. Mas, do ponto de vista mitopoiético, o achado chega mesmo a ser sapiente: de fato, Clark Kent personaliza, de modo bastante típico, o leitor médio torturado por complexos e desprezado pelos seus semelhantes; através de um óbvio processo de identificação, um accountant qualquer, de uma cidade norte-americana qualquer, nutre secretamente a esperança de que um dia, das vestes da sua atual personalidade, possa florir um super-homem capaz de resgatar anos de mediocridade.

                                         



     


Filosofia versus Filosofia de Vida




A Filosofia (do grego philos, que traduz a ideia de amizade; e sophia, que significa sabedoria) passou a designar, na Grécia Antiga, um tipo de saber que  nasce do uso metódico da razão, da investigação racional na busca do conhecimento.
Em sua tentativa de entender tudo o que existe no mundo, a própria filosofia não escapou ao questionamento filosófico. De questionadora, passou a ser questionada. Pensadores de todas as épocas tentaram definir o papel e o valor da filosofia, destacando-se: (1) “A filosofia é uma maneira de reaprender a ver o mundo”, Merleau-Ponty; (2) “A filosofia é o desenvolvimento e uso do saber em benefício do homem”, Platão; (3) “A filosofia não é uma doutrina, mas uma atividade. É uma luta contra o enfeitiçamento do nosso entendimento pelos meios da nossa linguagem”, Wittgenstein.
A atividade filosófica exige argumentos racionais e lógicos, sendo, portanto, o ato de filosofar caracterizado pelo rigor e pela sistematização. O filósofo, por exemplo, não aceita qualquer constatação imediata como verdade absoluta. Ele analisa, problematiza, para depois concluir.
A filosofia tornou-se referência para a nossa cultura. Porém, é vítima de muitos preconceitos e enganos. Muitos confundem “filosofia” com “filosofia de vida”.
A “filosofia de vida” está relacionada à mera opinião, ou seja, a uma especulação rasa e simplista sobre as coisas, sem nenhum conteúdo reflexivo. Consiste em uma concepção de mundo que o homem acaba desenvolvendo para uso pessoal – “filosofia de cada indivíduo, jeito/estilo de viver, comportamento próprio, modo de ser”.
Não é preciso ser filósofo para ter uma filosofia de vida.
Portanto, “filosofia” difere-se de “filosofia de vida”, pois a primeira possibilita tratar de maneira crítica, racional, aquilo que se encontra no cotidiano, ou até mesmo aquilo que aceitamos, espontaneamente, como verdadeiro, enquanto a segunda possibilita ao homem se orientar no meio em que vive, de forma espontânea, de modo a considerar experiências cotidianas.  Assim, o pensamento produzido pela filosofia se difere de uma opinião qualquer, espontânea e assistemática.